Um pouco de atenção vale mais que muita preocupação.
Quando não estamos presentes na educação dos nossos filhos, logo estamos em busca de algum culpado para justificar a razão dos seus comportamentos deformados. Mas, infelizmente para os pais, não há como justificar que o resto do mundo seja culpado de alguma coisa. Podem criar desculpas elaboradas, podem ter um motivo para cada coisa, e podem mesmo alegar falta de tempo, pois trabalham fora, precisam manter a casa, etc. Mas, não há como fugir da realidade, e esta é simples, os pais ou tutores são os verdadeiros responsáveis pela conduta de suas crianças, afinal de contas, estas não vieram ao mundo como cães sem dono.
Se não conseguem ter tempo para cuidar delas, isso faz parte do problema criado por eles mesmos, e não existem outros culpados. Como podemos exigir do mundo coerência para o modo de pensar e agir dos nossos filhos, se nós mesmos nunca lhes demos isso? Uma criança, criada dentro de um lar atencioso, com pais ou tutores carinhosos, respeitadores, só por obra de um trágico e ilógico destino, poderão ter uma mente deformada ao crescerem.
As tentações do mundo lá fora, seus vícios e manias, existem primeiro dentro de nossas casas, através de nossas posturas pessoais, do modo como para elas retratamos e descrevemos os nossos ideais, nossas angústias, frustrações e medos.
Disso vai depender o que gostarão de ser no futuro, e a influência lá de fora, servirá apenas de complemento para seus desejos. Sendo criado em um ambiente de atenção, cuidados e compreensão, nada, mais nada, do mundo lá fora, tenderá a influenciá-los de forma negativa. Se ainda assim caírem em tentação, será porque uma correta educação preliminar, nunca tiveram em casa. Não se trata de lhes proporcionamos conforto e plenitude material, mas antes disso, de lhes darmos atenção e respeito, afinal, são nossos filhos.
Muitas vezes se comenta, como jovens que tem uma boa vida, uma família estruturada e estável, uma boa escolaridade, pais aparentemente justos que lhes suprem todas as necessidades, como jovens assim, se deformam a ponto de cometerem excessos, se entregarem aos vícios ou drogas, ou praticarem delitos graves.
Educar sem vocação é o mesmo que tentar ler com o livro fechado.
Perguntamos nesse ponto: Como afinal de contas nasce a mente de um jovem; de onde virão as influências que lhe darão o comportamento, a conduta que o caracteriza como indivíduo? Do mundo lá fora, dos amigos; sugestão da sociedade, dos costumes; o que afinal de contas os influenciam a ponto de determinar o que devam ou não ser, devam ou não fazer de suas vidas?
Uma criança não se preocupa com a personalidade que terá; ela sequer sabe o que vem a ser isto.
Sabemos que uma criança não nasce com uma personalidade, então, só podemos deduzir, pela lógica, que tudo isso ocorre no intervalo entre sua fase infantil e adolescente. Mas, como essa criança recém chegada ao mundo apreende os caracteres que determinarão sua personalidade, seus gostos, seus desejos, suas amarguras, seu caráter?
Uma criança aprende através da imitação, logo ela precisa de um exemplo prático para imitar, um modelo para reproduzir, ou vários modelos, e destes, finalmente, vai tirar aquilo que lhe servirá de gabarito para construir sua própria personalidade. Não há outra maneira, mas existem muitas formas de como essa maneira tende a se apresentar para ela, ou influenciá-la.
Elas não poderão gostar das coisas lá de fora, se já não tiverem uma predisposição psicológica para que tais influências surtam efeito sobre as mesmas. Não se trata de atração involuntária, ou necessidade física por uma ou outra coisa do mundo, pois o que existe de concreto, é uma mente, um cérebro a deduzir, a avaliar, tudo aquilo que pode lhe proporcionar alguma vantagem, alguma compensação, ou prazer.
No cérebro, é lá dentro que estão suas memórias, suas lembranças, tudo aquilo que aprendeu a odiar ou preferir, a rejeitar ou idolatrar. Isso se aprende, se aprende com alguém, seja quem for; isso não é coisa inata, nem uma condição física que não esteja sob o domínio da vontade, como acontece, por exemplo, com uma corrente sanguínea, que flui, sem depender do nosso desejo, credo ou opinião.
A questão que surge então é essa: Como surgem as predisposições, os desejos, as preferências, as antipatias ou empatias que darão lastro a personalidade dos nossos filhos, uma vez que eles não nascem com isso? Será coisa instintiva, como o são a capacidade de sentir fome, frio, etc., ou isso se aprende através da imitação, de um modelo que lhe sirva de exemplo?
Para diferenciar uma coisa instintiva de outra adquirida através do hábito, é simples, basta separar aquilo que é movido pelo desejo, pela vontade, daquilo que não é. Por exemplo, sentir fome, sentir dor, e assim por diante, isso não depende de nossa vontade, ocorre à revelia do nosso querer, logo aí não há a interferência do pensamento, isso é instinto. Se podemos escolher ou comparar, preferir, então é coisa do pensamento, faz parte de nossas memórias apreendidas, acumuladas através de nossa experiência pessoal, e certamente, de alguém isso copiamos, ou aprendemos.
Descobrir que os vícios do mundo são repassados a cada geração para nossos herdeiros, esse deve ser o primeiro passo; aceitar que esse é o modo que serve de modelo às futuras gerações, é compreender a coisa. Feito isso, como educadores, assim como o agricultor que pretende separar os grãos incapazes de germinar dos capazes, devemos avaliar tudo aquilo que não mais nos serve, que não serve de exemplo ao homem, que não mais merece ser imitado, repassado, como até hoje o temos feito, cujo resultado é o mundo onde vivemos.
Não podemos mudar o mundo, que isso fique muito claro, tão óbvio quando o ar que respiramos, mas podemos sim, transformar o indivíduo, aquele que vê esse mesmo mundo, o mesmo que multiplica e perpetua os hábitos que aqui se pratica. Este sim será capaz de alguma ação, individual, capaz de deixar uma herança digna para seus sucessores, sem vícios, e talvez, criar, um lugar mais justo para se viver.
Autor: Jon Talber
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